20 de março de 2013

COMPANHIA VINÍCOLA RIOGRANDENSE - PARTE II - A EXPANSÃO - Sergio Inglez de Souza


A expansão

O período que vai de 1929 a 1959, foi palco de revolução no setor vitivinícola gaúcho, que se caracterizou por novidades, desentendimentos e expansão. A Sociedade Vinícola Rio-Grandense continuava a ser o braço operacional do governo gaúcho na regulamentação do mercado.

Em 1930, foi iniciada a fase de consolidação da Sociedade Vinícola, que passou a comprar uvas dos produtores e coordenar a vinificação nas cantinas dos associados, assim dando dimensão maior ao negócio e um novo ritmo de atuação no setor.

Para dar suporte a suas atividades, a Sociedade Vinícola expandiu sua estrutura de comercialização em nível nacional, abrindo filiais em Salvador (1936), Rio de Janeiro (1941), Rio Grande (1942) e São Paulo (1945), completando com Curitiba (1951) e a abertura de um entreposto em Belo Horizonte (1951).

A união faz a força

Os produtores independentes - aqueles que não haviam abdicado ao direito de engarrafar e comercializar os seus rótulos próprios - deixaram de ter as benesses oficiais da isenção da taxa bromatológica e sofreram com novos impostos incidindo sobre suas atividades, gerando-lhes custos mais altos. A reação para subsistir foi partir para o modelo do cooperativismo.

Dentro desse contexto, surgiram sucessivamente as cooperativas Forqueta, Santa Justina, São Victor, Otávio Rocha, Garibaldi e Aurora, dentre outras tantas, apoiadas na liderança do Dr. Celeste Gobatto, autoridade respeitada no setor. As dezenas de cooperativas marcaram sua atuação por meio de seus postos de vinificação nas áreas de produção. A líder das cooperativas era a Garibaldi.

O segmento vitivinícola gaúcho tornou-se bipolar: de um lado, o bloco das cooperativas e, do outro, o conglomerado da Sociedade Vinícola Rio-Grandense.

Os grandes volumes de vinho eram transportados a granel em caminhões-pipa com destino ao porto de Porto Alegre, onde completavam a capacidade dos navios-tanques fretados, que levaria para entrepostos dos portos de Santos, Rio de Janeiro, Salvador e Recife.

O naufrágio

No romper dos anos 1950, a Sociedade Vinícola Riograndense era a maior organização do setor com mais de um terço da produção gaúcha. Considerando os grandes volumes transportados a granel, embarrilado e garrafas encaixotadas, ofereceu rápido retorno de capital e, em 1951, a Sociedade Vinícola adquiriu um navio para carga seca, para o transporte de vinhos em barris e em garrafas encaixotadas, batizado de Vinho Castelo.

O famoso navio Vinho Castelo passou a transportar grandes quantidades de barris e caixas de vinho, proporcionando o total domínio do transporte do vinho para os grandes centros consumidores. Apesar da necessidade de enormes quantidades de barris, os custos operacionais caíram, criando maior competitividade para os vinhos da Sociedade Vinícola.

O carro-chefe dos produtos da Sociedade foi o vinho comum de nome Vinho Castelo, líder absoluto da empresa e o mais vendido dentre todos produzidos durante o período de 1946 e 1955.

Em 1957, numa das viagens do navio Vinho Castelo para a Argentina, ele se chocou contra rochedos e foi a pique na costa uruguaia, causando grande prejuízo e perda total. A partir deste acidente, a Sociedade Vinícola se associou às cooperativas Garibaldi, Aurora e Forqueta, fundando a empresa de navegação Navinsul, operando um navio-tanque próprio para abastecer o porto de Santos. Os demais destinos ficaram com navegação de cabotagem.

As três cooperativas unidas em uma federação montaram também uma central de engarrafamento em Santos, comercializando o rótulo comum Centauro.

Granja União

Em 1932, a Sociedade Vinícola Rio-Grandense, seguindo a linha de inovações, efetuou uma importação de cerca de 130 variedades europeias (italianas e francesas) e iniciou a formação dos famosos vinhedos conhecidos por Granja União, no município de Flores da Cunha, com o objetivo de dar os primeiros passos na direção de produzir vinhos varietais finos (uvas viníferas).

Em 1935, a Sociedade engarrafou e comercializou a primeira produção de vinhos varietais finos, sob o rótulo Granja União, embarricados, que fizeram sucesso em todo País. Eram vinhos de Bonarda, Cabernet Franc, Moscato, etc. A preponderância do vinho comum na máquina produtiva da Sociedade era uma decorrência da descomunal quantidade de vinhedos de uvas americanas, reservando uma reduzida participação para os vinhos de uvas viníferas que não superava muito a casa dos 5%.

A área de vinhedos de castas finas viníferas da Granja União totalizava 150 hectares, enquanto que o Rio Grande do Sul possuía área de vinhedos comuns da ordem de 20.000 hectares! As garrafas dos vinhos Granja União, Barbera, Cabernet, etc, lançados da safra de 1937, inauguraram um período de reinado desses varietais no mercado brasileiro que viria a perdurar nas décadas seguintes. 

* Sérgio Inglez de Souza é editor do blog Todovinho, ex-presidente da SBAV, escritor e um dos especialistas em vinhos mais respeitados do Brasil.

Extraído do sítio Enoeventos

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