31 de março de 2013

INFLUÊNCIA NA ARTE E CULTURA MINEIRAS

Igrejas construídas pelas irmandades de São Francisco e Nossa Senhora do Carmo em Mariana 

Associações religiosas do século XVIII influenciaram a arte e a cultura mineiras. Além de importantes pilares da fé no Estado, irmandades, ordens terceiras e confrarias também contribuíram para disseminar a cultura e a educação.

Com forte presença na cultura mineira, sobretudo no século XVIII, as organizações religiosas (irmandades, ordens terceiras e confrarias) foram responsáveis pela construção e manutenção de boa parte das igrejas históricas e pelo patrocínio de quase toda atividade artística durante o período colonial, dando contribuições inestimáveis à vida intelectual e cultural de Minas Gerais.

Até hoje, o papel destas organizações religiosas como uma das bases da estruturação da sociedade mineira é visível em um amplo legado histórico e cultural de Minas que, na Semana Santa ou em qualquer época do ano, vale a pena a visita.

De acordo com o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), as associações reuniam homens e mulheres de diferentes classes sociais, das camadas mais abastadas às mais pobres, que se associavam em torno de um santo de devoção em busca de proteção e graças divinas. “O principal objetivo destas associações era de se ajudarem mutuamente, praticarem a caridade e adorarem a um santo em comum. Na morte, o irmão recebia um funeral digno e era enterrado na igreja”, explica o analista de Gestão e Proteção do Iepha, Carlos Henrique Rangel.

As irmandades também prestavam assistência a seus associados, particularmente na hora da morte e cuidavam para que seus membros tivessem enterros solenes, marcados pela pompa fúnebre que expressavam prestígio social.

A formação das irmandades começou com a instalação das primeiras freguesias e paróquias. A partir de 1720-1740, essas corporações surgiam para apoiar e promover a construção de igrejas, polarizando interesses de grupos sociais diferentes. Cada irmandade reunia determinado grupo social ou camada. Existiam irmandades e ordens terceiras de negros, brancos e mestiços, que competiam religiosa, social e esteticamente.

“Essa adoração culminava na construção de igrejas dedicadas ao santo de devoção. Quando ainda não possuíam igreja, as irmandades possuíam um altar lateral em igrejas de outras irmandades”, destaca Carlos Henrique. A Mesa de Consciência e Ordens, criada em Lisboa em 1532, era a responsável por fiscalizar as anuidades cobradas, os bens e os livros internos, a ereção e a construção de templos.

Ainda no século XIX, associações continuaram a ser importantes instituições religiosas. No Império, apesar da diminuição de sua representação social, elas mantiveram a essência: a devoção a um santo e a assistência a seus membros.

Incentivo à cultura e à educação

Foram as ordens terceiras religiosas e irmandades os maiores patrocinadores de quase toda a atividade artística da capitania. A rivalidade entre duas grandes ordens terceiras, do Carmo e São Francisco, resultou em praticamente metade da obra de Aleijadinho e do Mestre Ataíde. Alguns exemplos de construções erguidas a partir das associações religiosas são a Igreja de Nossa Senhora do Carmo e a Igreja de São Francisco, ambas em Mariana.

A Festa de Nossa do Rosário, organizada desde o século XVIII pela irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Chapada do Norte, é outro legado cultural das irmandades mineiras.

Também no terreno da música e educação musical, essas associações deixaram frutos. Em determinado período do século XVIII, existia em Minas maior número de músicos ilustres do que na própria corte portuguesa, segundo estudos de Curt Lange, citado por Fritz Teixeira de Salles.

“As irmandades conheceram o seu auge durante o século XVIII, financiando as artes para os templos, a fatura de imagens e altares forros. Permitiram o surgimento de grandes artistas dedicados a servi-las, culminando em uma manifestação artística barroca e rococó típica de Minas Gerais”, explica Carlos Henrique Rangel.

As contribuições das irmandades também refletiram na educação: à época de seu surgimento, as irmandades foram responsáveis pela instrução, por meio de um convívio disciplinado, pelos sermões proferidos nas grandes festas religiosas e no contato direto com os sacerdotes, em uma sociedade onde a educação formal ainda não era institucionalizada.

Invocações prediletas

Os fiéis se uniam em torno da adoração a um santo padroeiro de devoção, que representava um grupo social ou raça. De acordo com o livro "Associações Religiosas no Ciclo do Ouro", de Fritz Teixeira de Salles, as invocações prediletas dos cidadãos brancos no interior de Minas eram Nossa Senhora do Carmo, São Francisco, Nossa Senhora da Conceição, Pilar, Santíssimo Sacramento, Arcanjo São Miguel, São Pedro dos Clérigos, Senhor dos Passos e Santana.

Os cidadãos pardos preferiam a Nossa Senhora do Amparo, São Francisco de Paula, São José dos Bem Casados, São Gonçalo e Pardos do Cordão, enquanto os negros, além de escravos e crioulos, invocavam Rosário, São Benedito, Mercês, Santa Efigênia e Nossa Senhora dos Remédios.

Investimento em obras de restauração e revitalização
Em fevereiro deste ano, o presidente do Iepha, Fernando Viana Cabral, assinou ordem de serviços para obras de restauração e conservação de igrejas em Minas Gerais, muitas delas erguidas a partir das associações religiosas.

Lançado pelo governador Antonio Anastasia em 2011, o programa Minas Patrimônio Vivo é um dos mais completos no tocante à proteção do patrimônio cultural de Minas Gerais.

Em 2013 serão investidos R$ 5.686.405,49 na recuperação de 16 bens culturais tombados – a maioria igrejas, como a Igreja Matriz de Santana, em Congonhas do Norte. O prazo de conclusão dos contratos é de três a cinco meses para projetos e de seis a 18 meses para obras.

Clique aqui para conhecer cada um dos 16 projetos e obras contemplados.

O Iepha também promove a restauração de esculturas religiosas que possuem relevância histórica para as comunidades às quais pertencem. E membros da comunidade - estudantes, profissionais e curiosos – podem visitar as dependências do Iepha para acompanhar este trabalho.

As visitas ao ateliê de conservação e restauração são sempre às sextas-feiras, de 9h às 17h, sendo que grupos maiores devem agendar a visita pelo e-mail restauracaoacervo@iepha.mg.gov.br.

Quem não está em Belo Horizonte também pode acompanhar o processo através do blog Restauração de Acervos, que pode ser acessado no site do Iepha. Quinzenalmente serão postadas fotos e comentários sobre o processo de restauração.

Em 2012, foram restauradas 19 imagens religiosas, como a de Nossa Senhora do Carmo, da Igreja Matriz de Santo Antônio, de Conceição do Mato Dentro. De modo geral, as peças apresentam sujidades generalizadas e aderidas, craquelês, desprendimentos de policromia em áreas pontuais e perda de suportes.

Clique aqui para conhecer as obras recuperadas em 2012.

Extraído do sítio Farol Comunitário

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