17 de março de 2013

KARL MARX: OS ALTOS E BAIXOS DE UMA IDEOLOGIA


Há 130 anos morria o filósofo alemão Karl Marx. Poucos pensadores polarizaram e mudaram o mundo de forma tão intensa. Suas ideias foram recebidas com entusiasmo, tratadas com desprezo e pervertidas por ditaduras.

O Manifesto Comunista, escrito por Karl Marx e Friedrich Engels, é, ao lado da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 e da Declaração de Independência dos Estados Unidos, uma das obras políticas mais influentes da história mundial. "Nunca um movimento desencadeado pela filosofia havia exercido tamanho poder", disse o filósofo Hans Joachim Störrig. Na segunda metade do século 20, metade da população mundial vivia em países cujos governos construíram seus fundamentos ideológicos com as ideias de Marx.

Assim, Marx atingiu seu próprio objetivo. Quando jovem ele escreveu: "Os filósofos apenas interpretaram o mundo de maneiras diferentes, mas o que importa é transformá-lo."

'O Capital' é a principal obra do pensador alemão
Marx queria ser visto como um cientista, e não como um filósofo. Seu trabalho era centrado na análise do trabalho. O homem é "o animal que produz a si mesmo", segundo os organizadores da obra de Marx Siegfried Landshut e J. P. Meyer. Para analisar o trabalho, era necessário conhecimento econômico apropriado, transmitido a Marx por seu amigo e colaborador Engels.

O pensador alemão formulou a teoria da mais-valia, segundo a qual uma pessoa pode gerar mais valor do que o necessário para sua subsistência. O excedente é apropriado pelo capitalista, ao fazer o trabalhador produzir mais do que lhe é pago para seu sustento. O resultado é o lucro.

As teorias de Marx se baseiam na ideia de que a base material determina a vida em sociedade: "A existência determina a consciência". A forma como vivemos e trabalhamos molda nossos sentimentos e pensamentos. Além disso, Marx acreditava que a história está sujeita a leis semelhantes às da natureza, e chegou à conclusão de que, tão certo como uma pedra cai no chão, a sociedade capitalista burguesa iria cair devido a suas contradições internas.

Causa e efeito

O comunismo foi instaurado por Lenin na antiga URSS
Assim como a conjuntura econômica mundial, o pensamento de Marx passou por fases de extremo entusiasmo e profundas depressões nos últimos cem anos.

Sua teoria marcou a base do conflito da Guerra Fria. Na Rússia, Lenin e seu sucessor Stalin transformaram o comunismo em ideologia e realidade política na forma do Materialismo Histórico. Mao Tsé-Tung na China, Ho Chi Minh no Vietnã, Kim Il-Sung na Coreia do Norte e Fidel Castro em Cuba também seguiram as ideias do alemão. Eles estavam convencidos de que Marx havia encontrado uma verdade universal, o que não os impediu de adaptar as teorias marxistas às suas próprias necessidades. Não sem razão, o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura Albert Camus escreveu, em 1956: "Os erros que cometemos com Marx nunca seremos capazes de redimir."

O colapso do bloco oriental

Em poucos anos, os países comunistas se tornaram brutais ditaduras com milhões de mortos, como a União Soviética e a China. As previsões de Marx de que a revolução era inevitável nos países industrializados não se concretizou. Pelo contrário, o sistema soviético, que sempre se viu como o pioneiro do comunismo, sucumbiu à concorrência com o Ocidente capitalista.

Outras premissas de Marx também se provaram erradas ou ao menos tendenciosas. O filósofo liberal Karl Popper demonstrou que a teoria de Marx – ao contrário de suas ambições – não satisfazia critérios científicos. A redução do Direito, da cultura e da arte a uma mera superestrutura determinada por uma base econômica não faria jus à realidade.

Marcado pelo nacionalismo e pelas desigualdades internas, o comunismo na China está longe dos ideais de Marx
Após o colapso da União Soviética ficou fácil descartar a doutrina de Marx como uma aberração histórica. As democracias liberais do Ocidente, com seus sistemas econômicos capitalistas, haviam finalmente vencido o conflito que marcou a segunda metade do século 20. Ao menos era o que parecia.

Crise econômica mundial

Mas, menos de duas décadas mais tarde, é possível ver que as coisas não são assim tão simples. Com a crise financeira mundial de 2008, centenas de milhares de pessoas perderam seus empregos e suas casas. E Marx voltou a ser atual.

Marx havia descrito não apenas a globalização como resultado do capitalismo. Ele havia descrito também as contradições internas da sociedade capitalista burguesa que iriam, em sua opinião, levar a crises regulares e recorrentes. Além disso, ele previu o acúmulo de capital na mão de poucos. "Na atual crise econômica, ele não poderia ser mais atual", disse o economista Werner Krämer.

Netos e bisnetos de Marx

Retratos de Marx e Engels no centro de Pequim em 1972
A rápida ascensão da China fez muitos se perguntarem: será que o comunismo então funciona? Porém, o que é vendido por Cuba, China, Venezuela e Vietnã como comunismo tem pouco a ver com as teorias do pensador alemão.

O isolamento externo e o nacionalismo associado a ele, como no caso da China, passam longe das ideias de Marx. Ele via a libertação apenas nas mãos de um proletariado internacional. De acordo com Krämer, que lecionou por um tempo no país, a China é uma sociedade relativamente injusta, com uma enorme diferença entre ricos e pobres. Esse é um indício de que, "na China de hoje, predomina uma enorme contradição entre a teoria marxista e a ordem econômica."

Extraído do sítio Deutsche Welle

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