28 de março de 2013

TECNOLOGIA 100% NACIONAL, AEROMÓVEL CHEGA À RETA FINAL EM PORTO ALEGRE - Carol Delmazo

Transporte inovador, desenvolvido em São Leopoldo (RS), está prestes a ser implantado na capital gaúcha. Chegada do primeiro veículo e testes iniciais estão previstos para abril. Começo da operação comercial será no segundo semestre de 2013.


Quem passa em frente ao Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, fica pelo menos curioso. Diante do terminal de passageiros, dezenas de pessoas trabalham em uma via de concreto, cuja altura varia de 4,5 a 9 metros. A estrutura chama atenção não só pela elevação, mas pelas curvas sinuosas presentes no trajeto. Os trabalhos ali estão na reta final.

Os trilhos estão sendo ajustados na via. No começo e no fim da linha, duas estações de 450 m², climatizadas e com portas automáticas, recebem os acabamentos. Os dois veículos que vão circular na estrutura - um para 150 passageiros e outro para 300 - foram fabricados em Três Rios, no interior do Rio de Janeiro. O menor chega a Porto Alegre em abril, para os primeiros testes, e o segundo em maio. Esse é o contexto da primeira linha comercial do Aeromovel no país. A previsão de início da operação é para o segundo semestre de 2013.

Humberto Kasper, da Trensurb: aeromovel será "um braço do sistema de mobilidade". Fotos: Danilo Borges/Portal da Copa

O Aeromóvel é um sistema automatizado de transporte de passageiros que se locomove em via elevada. Trata-se de um veículo leve sobre trilhos movimentado pelo ar gerado por ventiladores industriais, que controlam pressão, direção e velocidade do ar.

“O veículo tem uma placa de propulsão fixa no chassi do carro, que fica enclausurada dentro da via. Então, uma corrente de ar de baixa pressão e de alta vazão sopra o veículo empurrando ele pra frente ou succiona, trazendo o veículo de volta. O motor que gera a força de tração do sistema fica fora do veículo, deixando o veículo mais simples e mais leve possível”, explica Diego Abs, diretor de engenharia da Aeromóvel Brasil S/A, empresa sediada em São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre.

“A roda e o trilho tem funções diferentes em relação ao transporte ferroviário. Eles são usados para uma espécie de rolamento linear e a propulsão é feita independente da roda. É um sistema de barco a vela invertido, em que o próprio duto da via é o túnel de vento. Ao invés de esperar o vento soprar, o vento é soprado através de ventiladores industriais, movidos a energia elétrica.”, acrescenta o gaúcho Oskar Coester, presidente da empresa e inventor da tecnologia.


Em Porto Alegre, o percurso do Aeromóvel terá um quilômetro, fazendo a ligação direta entre a Estação Aeroporto, integrante do metrô da capital gaúcha , e o terminal 1 de passageiros do aeroporto Salgado Filho. A linha é de responsabilidade da Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (Trensurb), vinculada ao Ministério das Cidades. A Trensurb adquiriu o pacote tecnológico do Aeromovel em agosto de 2010.


“O Aeromóvel será tratado como um braço da Trensurb do sistema principal. Ao comprar o bilhete da Trensurb, o usuário já estará dentro do sistema. Na Estação Aeroporto, ele fará uma transferência, já na área paga, e poderá ter acesso ao Aeromóvel para chegar ao aeroporto, sem custo adicional. E o mesmo vale para o sentido oposto, basta adquirir o bilhete do metrô”, explica Humberto Kasper, diretor-presidente da Trensurb.

De acordo com Kasper, a decisão de implantar o Aeromovel foi baseada em vários fatores. “Em 2004, um parecer técnico do Ministério da Ciência e Tecnologia recomendou que o país investisse no desenvolvimento da tecnologia, 100% nacional. No relatório da CPI da crise do sistema de tráfego aéreo, foi recomendado que houvesse soluções para os aeroportos em termos de acesso por modos coletivos de transporte. Um plano de soluções foi produzido pelo Ministério das Cidades, que recomendou os testes com a tecnologia Aeromovel, sugerindo a criação da linha aqui em Porto Alegre”, diz.

Em dezembro de 2010, a Trensurb e a Infraero assinaram um termo de cooperação para implantação do sistema entre a estação do metrô e o aeroporto. A obra teve início em agosto de 2011, com investimento total de cerca de 38 milhões de reais, recursos do governo federal.
Sistema verde

A velocidade dos veículos do Aeromovel será de, no máximo, 65 km/h e o trajeto de um quilômetro vai ser percorrido em um minuto e meio. Como os veículos são leves e há uso de eletricidade, o consumo de energia e o impacto ambiental são reduzidos.

“É um sistema de tecnologia verde. A matriz energética é a eletricidade e como o consumo de energia é pequeno, você tem um baixo impacto ambiental. Além disso, não há emissão de poluentes gasosos e a emissão de ruídos é bastante reduzida. Os veículos pesam de três a cinco vezes menos que os de um sistema convencional de mesma capacidade”, explica Diego Abs.

Ele acrescenta que a expectativa de custo para o operador é de cerca de 1/3 de um sistema equivalente tradicional, já que os veículos do Aeromovel são simples, com poucas partes móveis. Além disso, todas as peças são encontradas no mercado nacional, desde as placas de fixação dos trilhos e emendas das borrachas, vindas de pequenas empresas de Porto Alegre, aos veículos, que foram produzidos no interior do Rio de Janeiro.

Outra vantagem é a versatilidade do sistema. “Ao invés de fazer realocações das passarelas, dos viadutos, das construções ao redor, pode-se inserir o Aeromovel pela malha urbana, minimizando ao máximo as desapropriações e realocações. Isso porque ele consegue fazer curvas bem acentuadas, de raios fechados e consegue vencer grandes aclives. Nenhum outro sistema sobre trilhos consegue, porque os veículos patinam. E o Aeromovel não tem esse problema de derrapar”, diz Diego Abs.

O Aeromovel, segundo o diretor de engenharia, também não oferece risco de abalroamento. Se por acaso um veículo tentar se aproximar enquanto outro trafega na via, ele explica, forma-se um colchão de ar entre as placas de propulsão, evitando a colisão dos veículos. Além disso, as placas de propulsão prendem o veículo firmemente na via diante de qualquer tendência de tombamento.


Comodidade

De acordo com a Trensurb, a expectativa é atender uma demanda de cerca de 10 mil pessoas por dia. São passageiros que costumam percorrer a pé a distância de um quilômetro entre o terminal 1 do aeroporto e a estação da Trensurb, uma parte pelas ruas e outra pela passarela.

Bastam alguns minutos na entrada da estação para ver repetidamente a cena de pessoas chegando com malas do aeroporto, cansadas. São esses os usuários que aguardam com ansiedade a implantação do Aeromovel.

“Vai facilitar muito para quem desembarca no aeroporto. A gente tem que dar uma pernada, é muito cansativo. Hoje mesmo nós chegamos de Salvador e viemos andando com duas malas pesadas”, diz a secretária Viviane Brito.

O representante comercial Jorge Augusto Germano concorda. Ele mora em São Leopoldo e usa o metrô regularmente para o acesso ao aeroporto. “Realmente é complicado fazer esse 1 km puxando bagagens pesadas, principalmente porque parte do piso não está muito boa e as rodinhas da mala já não funcionam direito. Esse novo transporte vai facilitar bastante” diz.

Copa: catalisador do projeto

A implantação do Aeromovel não está na Matriz de Responsabilidades da Copa do Mundo da FIFA 2014, mas o projeto é considerado fundamental para o Mundial. O fato de Porto Alegre sediar a competição foi um catalisador da realização da obra.

“Esse projeto teve o sinal verde do governo federal neste momento muito em razão da Copa do Mundo, para melhorar a acessibilidade do aeroporto para a Copa, para aproveitar esse momento importante e deixar um legado permanente para o país” diz Humberto Kasper.

Ele acredita que o Aeromovel poderá ser replicado no Brasil, por ter capacidade para transportar mais passageiros com múltiplas possibilidades de uso, inclusive para ligação de grandes centros industriais ou residenciais.

A expectativa de Diego Abs não é diferente. “Esse projeto operando comercialmente com sucesso servirá de demonstração da confiabilidade, da segurança, da competividade, da economicidade da tecnologia. A Copa vai ser muito importante para demonstrar para o resto do mundo que o Brasil consegue desenvolver soluções próprias e inovadoras para seus problemas e, quiçá, exportá-las para o mundo”, diz.

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