8 de abril de 2013

COMPANHIA VINÍCOLA RIO-GRANDENSE - PARTE III - O APOGEU - Sérgio Inglez de Souza

O apogeu

Os grandes volumes de vinho de mesa eram transportados a granel, saindo das adegas da Sociedade Vinícola em caminhões-pipa com destino a Porto Alegre, onde eram estocados visando completar a capacidade dos tanques de navios fretados, que iriam abastecer outros estados: Santos, Rio de Janeiro, Salvador e Recife, nos entrepostos da Sociedade.

No romper dos anos 1950, a Sociedade Vinícola Riograndense era a maior organização do setor vitivinícola brasileiro, atingindo a capacidade instalada de suas cantinas de 32 milhões de litros, comercializando fora do Rio Grande do Sul 13 milhões litros anuais.

Em Caí, operava uma fábrica de garrafas com capacidade de produção anual de 3.000.000 unidades de diversos tipos, empregadas nas suas diversas linhas de engarrafamento.

A multinacional italiana Martini & Rossi instalou duas unidades produtoras de vermutes no Brasil, em 1951, uma em São Paulo e outra em Recife, e firmou um acordo de compra de grandes volumes de vinho-base com a Sociedade Rio-Grandense. Acordo similar foi assinado com a Cinzano.

Com esses acordos, houve grande incremento na demanda que passou a exigir grandes quantidades de embarques de vinho-base da variedade americana Herbemont, esbarrando com crescentes dificuldades no contato com a navegação de cabotagem, cuja frota de navios-tanques era insuficiente, impactando nos prazos de comercialização.

Considerando os grandes volumes transportados a granel e as possibilidades de transformar esta quantidade em três modalidades - granel, embarrilado e encaixotado - resultou boa relação custo-benefício e rápido retorno de capital, de sorte que, em 1951, a Sociedade Vinícola adquiriu um navio para carga seca para transporte de vinhos em barris e em garrafas encaixotadas. Foi o início da fase sob a denominação social de Indústria, Comércio e Navegação - Sociedade Vinícola Rio-Grandense Ltda.

Era o famoso navio Vinho Castelo, que passou a transportar grandes quantidades de barris e caixas de vinho, proporcionando o total controle do transporte do vinho para os grandes centros consumidores. Apesar da necessidade de grande número de barris, os custos operacionais caíram, criando maior competitividade para os vinhos da Sociedade Vinícola. O navio Vinho Castelo era utilizado com grande versatilidade, ora transportando vinho em pipas para Santos, Rio de Janeiro e Nordeste, ora levando madeira para a Argentina, de onde voltava carregado de trigo.

A Sociedade trabalhava no setor vitícola, de características agrícolas, com contratos de compra e venda de uva com pequenos e grandes agricultores, pelos quais a indústria se obrigava a fornecer insumos, equipamentos e assistência técnica, e os preços variavam de acordo com a safra, a qualidade e fatores mercadológicos mais voláteis.

O início do fim

Neste período, acontecia a chegada das primeiras empresas multinacionais interessadas na exploração do setor vitivinícola e do mercado no Brasil. A Bernard Tailland Importadora S/A, associada a vinícolas na Argélia e na França, resolveu lançar vinho de sua marca no mercado brasileiro e, depois de muitas consultas (a Sociedade não aceitou o esquema proposto), fechou contrato com a Cooperativa Vinícola Aurora que, a partir de 1962, passou a produzir o vinho rotulado Bernard Tailland, com grande sucesso comercial. Este fato desencadeou outras iniciativas de encomendar vinhos finos às vinícolas nacionais e proceder à comercialização através de redes próprias.

O rótulo Bernard Tailland marcou o início do processo de afirmação e aceitação de vinhos finos brasileiros no mercado nacional, e foi uma oportunidade perdida pela Sociedade Vinícola Riograndense, por uma decisão equivocada. Talvez esse tenha sido um dos mais graves erros de avaliação, contrariando, inclusive, a postura sempre vanguardista da Sociedade, que começou a sofrer perda de ritmo e da saúde empresarial, sofrendo um divórcio de sincronismo com o movimento de modernização da vanguarda do setor vitivinícola brasileiro.

Este novo nicho de negócios era diferente daqueles volumosos fornecimentos de vinhos-base baratos para alimentar a produção de vermutes e quinados da Martini & Rossi ou da Cinzano. Agora estavam em jogo vinhos finos, varietais de uvas viníferas ou européias, com maior valor agregado e de colocação crescente num mercado recém-despertado para a qualidade possível do vinho brasileiro.

Ao longo de 1964, o desenvolvimento acelerado da rede rodoviária centro-sul produziu reflexos importantes na política de transporte de cargas para o Nordeste, especialmente pela maior flexibilidade do transporte por caminhões, economicamente mais atrativo, de gerenciamento muito mais simples e de custos bem mais baixos, colocando em cheque a solução Navinsul, com toda sua complexidade operacional e custos altos de manutenção de um navio. Foi, então, que os sócios resolveram desativar o esquema de cabotagem e vender o navio.

Em 30 de setembro de 1964, a Indústria, Comércio e Navegação - Sociedade Vinícola Rio-Grandense Ltda. teve alterada sua razão social de Ltda. para S.A., assumindo a nova e definitiva denominação de Companhia Vinícola Rio-Grandense S.A.

* Sérgio Inglez de Souza é editor do blog Todovinho, ex-presidente da SBAV, escritor e um dos especialistas em vinhos mais respeitados do Brasil.

Extraído do sítio Enoeventos

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