11 de abril de 2013

CRÔNICAS DE CLARICE LISPECTOR TÊM EDIÇÃO PORTUGUESA


"A descoberta do mundo", livro que é apresentado sexta-feira, em Lisboa, reúne as crónicas da escritora Clarice Lispector, no Jornal do Brasil, de agosto de 1967 a dezembro de 1973.

O livro, publicado pela editora Relógio d'Água, que tem lançado em Portugal a obra da escritora brasileira, é apresentado na sexta-feira, às 18:30, na Livraria Bertrand do Chiado, em Lisboa, pelos escritores Teolinda Gersão e Pedro Mexia. Numa nota de abertura do livro, o filho da escritora, Paulo Gurgel Valente, explica que "seria importante oferecer ao leitor [uma] visão geral [da obra escritora] que, de outra forma, ficaria dispersa". Gurgel Valente afirma que os textos escolhidos "não se enquadram facilmente como crónicas, novelas, contos, pensamentos, anotações", mas reforçam a necessidade de os ter coligidos.

"As crianças chatas" constituem o primeiro texto da obra - uma prosa curta, publicada em agosto de 1967, em que escritora relata o debate de uma mãe assaltada a meio da noite quando o filho lhe diz, "estou com fome mamãe". No total, a obra publica mais de 100 textos da escritora brasileira que é alvo de uma exposição na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, "A hora da estrela", no âmbito do Ano do Brasil em Portugal.

Na nota introdutória, Gurgel Valente diz que, "pelo período abrangido, em que foram escritos e publicados outros livros, é possível identificar o trânsito de situações e personagens entre o texto do jornal e [os] livros". Nestes "textos jornalísticos", a autora aborda temas da sua obra de natureza metafísica, mas também do seu dia-a-dia, das suas preocupações como dona de casa e mãe de dois filhos, ou do seu casamento com o diplomata Maury Gurgel Valente, de quem se divorciou em 1959. Nestes textos, Clarice escreveu sobre os amigos, alguns escritores que admiravam a sua obra, como Lygia Fagundes Telles ou Erico Veríssimo, das empregadas domésticas, da sua infância ou das muitas viagens que fez, o que leva o estudioso da sua obra Benjamim Moser, autor de "Carice Lispector, uma vida", a afirmar que este livro, reunindo as suas colunas na imprensa, pode considerar-se "uma autobiografia".

Destas crónicas consta uma "carta aberta ao ministro da Educação", na qual a escritora interroga como pode o Governo considerar haver "candidatos excedentes" ao ensino universitário, e exigindo "mais vagas. "Excedentes num país que ainda está em construção", indigna-se a autora de "Perto do coração selvagem".

O cantor e compositor Chico Buarque é tema de duas crónicas de Lispector, numa outra refere-se à "matança desses seres humanos: os índios" e, noutra, cita Fernando Pessoa, face ao seu receio de, através destas crónicas, revelar a sua privacidade e até se tornar popular. Lembra-se então do poeta português que afirmou "falar é o modo mais simples de nos tornarmos desconhecidos".

A publicação dos últimos textos data de 29 de dezembro de 1977, vinte dias depois de a autora ter falecido, no Rio de Janiero, aos 57 anos, vítima de cancro nos ovários. Clarice Lispector decidiu ser escritora em 1933, contava 13 anos. Em 1942, saiu a sua primeira obra, "Perto do coração selvagem". Escreveu cerca de 20 títulos, entre os quais "A paixão segundo G.H", obra que inspira um núcleo da exposição na Gulbenkian, "A vida íntima de Laura", "A mulher que matou os peixes", "Laços de família" e "A maçã no escuro". "Um sopro de vida" foi o seu último romance.

Extraído do sítio Diário de Notícias.pt

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