30 de abril de 2013

LITERATURA INDÍGENA É DISCUTIDA NO SEMINÁRIO DA PAN-AMAZÔNIA NA FEIRA DO LIVRO - Bruna Campos


A literatura indígena na Amazônia foi o tema que norteou o Seminário da Pan- Amazônia, realizado na manhã desta segunda-feira, 29, durante a programação da XVII Feira Pan-Amazônica do Livro. A conferência de abertura foi ministrada pela professora Maria Inês de Almeida, doutora em literatura brasileira, literatura indígena e edição, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Durante o seminário, a professora compartilhou com o público a experiência que ela tem como editora de mais de 500 livros de autoria indígena. “Embora não pareça tão comum e frequente ao grande público, a literatura indígena é extremamente relevante. A forma natural com que eles escrevem os livros nos leva a pensar sobre os movimentos literários no Brasil”, disse.

Segundo ela o movimento literário indígena tem a ver com o que está traduzido nos manifestos. “Os índios não lidam com a metáfora e sim com a metamorfose. E isto nos faz refletir como é que seria viver em um mundo sem metáforas”, completou.

Outra coisa interessante relatada por Maria Inês é o interesse que os índios têm pela leitura desde sempre, já que eles possuíam, ainda antes dos brancos, seus sistemas de escrita. “Por isso seus livros abrem para nós uma nova maneira de encarar a literatura, para além da voz narrativa, do sujeito, da ficção. Ao invés da representação, no sentido da metaforização, temos visto um processo de atuação dos signos, a performance oral desenhada de algum jeito. Isto faz lembrar de que a poesia feita por eles, existe nos fatos, e nas coisas”, completou.

Ainda de acordo com ela, para os indígenas, fazer um livro é tão simples como se fosse fazer um artesanato. “A primeira coisa que eles fazem quando começam a ser alfabetizados é se propor a escrever um livro”, disse.

Sobre os temas abordados pelos índios em seus livros, ela explicou que a maioria das narrativas até agora escritas foi contada pelos mais velhos. “São histórias que se remetem a época em que os bichos falavam com os homens, os mais velhos curavam com plantas, etc”.

Ainda durante o seminário, a palestrante levantou uma discussão. “Por que a literatura indígena pode ser vista hoje no Brasil como vanguarda? Talvez porque, através dela, saibamos como não colocar a escrita no lugar da fala. Porque nos traz de forma cabal o livro como multiplicidade e produz conexões e redes visíveis nas poéticas orais (com os espíritos, por exemplo), mas normalmente desprezadas pela crítica literária mais séria”, finalizou.

Para quem assistiu o seminário, o tema foi extremamente gratificante. “É muito bom conhecer um pouco mais sobre a cultura indígena. Não imaginava que os índios escreviam livros e que a literatura deles era tão rica. Sou paraense e moro no Rio de Janeiro, quando retornar para lá vou fazer questão de espalhar para todos os cariocas essa riqueza literária que nós temos na Amazônia”, disse a enfermeira Claúdia Bellucio, 36 anos.

Extraído do sítio Agência Pará de Notícias

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