5 de abril de 2013

VINÍCOLAS SUÍÇAS SABOREIAM CLASSIFICAÇÃO DE PARKER - Michèle Laird

Vinhedos de Sierre, no cantão do Valais (sudoeste). (Keystone)

Os vinhos suíços tardam a interessar o público estrangeiro devido seus custos elevados e a tímida divulgação no exterior. A situação pode mudar graças a um brilhante comentário na influente revista “Wine Advocate” do crítico Robert Parker.

Esta não é a primeira vez que os vinhos suíços recebem helogios de críticos de renome internacional. Mas, como já dizia o especialista Hugh Johnson há 30 anos, a prova da sua qualidade raramente vai além das fronteiras suíças, já que praticamente toda a produção é consumida no próprio país.

Em um comentário de 2008, a crítica de vinhos do Financial Times, Jancis Robinson, aplaudia a qualidade crescente dos vinhos suíços, mas lamentava que "o vinho suíço, como qualquer produto suíço, é caro". Para a especialista inglesa, os vinhos suíços desfrutam “dos vinhedos mais bonitos e inconvenientes do mundo".

Como resultado, a Suíça exporta apenas 2% de sua produção, que diminuiu para 1% após a valorização do franco suíço.

Agora, com a entronização de quatro vinhos dos cantões de Vaud, Valais e Ticino entre os melhores de 2012, segundo o especialista David Schildknecht, os viticultores suíços acreditam que chegou a vez deles.

A revista The Wine Advocate, comumente abreviada TWA, criada por Robert Parker em 1978, é considerada a publicação mais influente sobre vinho do mundo. As cotações de Parker, em uma escala de 100, já abriram e fecharam mercados da noite para o dia.

O suíço que finalmente conseguiu convencer Schildknecht a degustar um Chasselas, uma das principais uvas cultivadas na Suíça, foi José Vouillamoz, geneticista de uvas do Valais (sudoeste) e coautor do guia Wine Grapes with Wine Masters.

Vinhos na Suíça

A Suíça produz por ano ano uma média de 1,1 milhão de hectolitros de vinho, que costumava ser predominantemente de vinho branco, mas agora é quase metade tinto e metade branco.

A superfície vitícola da Suíça tem cerca de 15 mil hectares (o tamanho da Alsácia, na França). Três quartos dessa superfície estão na região de língua francesa. Os cantões mais importantes na produção de vinho são: Valais (5.136 ha), Vaud (3.851 ha), Genebra (1.288 ha), Ticino (1.036 ha), Zurique (620 ha), Neuchâtel (600 ha).

O consumo suíço de seus próprios vinhos diminuiu de 42% para 38% nos últimos anos.

Pechincha

Vouillamoz é um crente fervoroso que os vinhos suíços merecem ser mais reconhecidos. Ele explica que a variedade extraordinária de vinhos com personalidades distintas em um território tão pequeno é devido à presença de solos diferentes (um resultado da formação dos Alpes e suas geleiras) e climas (Atlântico, Mediterrâneo, Continental), bem como o vento quente Föhn, que atravessa as principais regiões vitícolas.

Ele admite, no entanto, que o reconhecimento de Parker pode criar situações complicadas. Por exemplo, se os produtores serão tentados a aumentar seus preços indevidamente ou exportar seus melhores vinhos, negligenciando suas bases locais.

"Para qualidades comparáveis, os vinhos suíços ainda são uma pechincha", afirma Vouillamoz, que se emociona quando descreve como Schildknecht conheceu um Arvine produzido por Robert Taramarcaz, da vinícola Domaine des Muses. O crítico americano fez questão de conhecer pessoalmente o vinicultor suíço.


Qualidade em vez de quantidade

"Recebi muitos pedidos do exterior depois que fui mencionado por Schildknecht," conta Taramarcaz à swissinfo.ch. "É como se tivessem de repente jogado um holofote sobre os vinhos suíços."

Perguntado se o reconhecimento não veio um pouco tarde, Taramarcaz diz, como muitos outros enólogos, que a qualidade dos vinhos suíços só melhorou nos últimos anos.

Após vários anos de excesso de produção e da impossibilidade de competir com os vinhos de mesa estrangeiros mais baratos, "percebemos que a única maneira de sobreviver era se concentrar na qualidade, não na quantidade", ressaltou.

As vinícolas suíças, segundo Taramarcaz, são geralmente empresas familiares e as gerações mais jovens tendem a ter formação profissional, às vezes no exterior. Taramarcaz, que tem apenas 34 anos, passou quatro anos na Nova Zelândia e França para aperfeiçoar seus conhecimentos.

"Para fazer nossos vinhos de montanha de qualidade, precisamos do tradicional know-how dos nossos antepassados, mas também precisamos de conhecimento científico. Muitos de nós são engenheiros", disse.

Desconhecidos

Gilles Besse, outro produtor de vinhos e enólogo de renome do Valais, é presidente da promoção do vinho suíço, uma organização que representa as vinícolas cantonais. Como Taramarcaz, ele está convencido de que os vinhos suíços alcançaram a um grau incomparável de excelência.

"Mas ainda não há demanda. As pessoas nem sabem que nós existimos", disse à swissinfo.ch.

Parte do problema é a falta de apoio do governo, mas também porque a maioria dos vinhedos são pequenos e difíceis de explorar, também há pouco investimento em marketing.

Para Besse, a menção de Parker foi, assim, um presente do céu. Ele ressalta, porém, que Schildknecht não deu nota para nenhum vinho. "Precisamos de um 93 para que as coisas realmente comecem a se mover", disse esperançoso.

"Embora não seja do nosso temperamento latino, precisamos nos tornar mais agressivos comercialmente", observou Besse. Uma campanha promocional está sendo lançada com a companhia aérea Swiss, com degustações a bordo.

Identidade

No entanto, Schildknecht também aponta outras razões para a pouca difusão dos vinhos suíços no exterior. O alto consumo local mantém os preços em níveis que, em sua opinião, não são competitivos para os comerciantes de vinho do exterior. Em segundo lugar, os vinhos suíços sofrem de uma falta de identidade clara.

"Existe uma variedade grande de uvas que são cultivadas em diversos microclimas e são vinificadas em vários estilos."

Schildknecht atribui a pouca divulgação de alguns vinhos suíços a um "partidarismo em nome dos vinhos caseiros" - um fenômeno que talvez não seja reservado à Suíça.

Extraído do sítio Swissinfo.ch

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