11 de maio de 2013

JAMELÃO, 100 ANOS: AS DIFICULDADES PARA IMPOR SUA VOZ - Marcos Aurélio Ruy

Neste dia 12, Jamelão completaria 100 anos. A trajetória do tenor do carnaval carioca mostra uma face do racismo brasileiro.

O tenor do carnaval e da dor de cotovelo: Jamelão

José Bispo Clementino dos Santos, conhecido como Jamelão, nasceu no Rio de Janeiro em 12 de maio de 1913 e ainda criança viu-se obrigado a trabalhar como engraxate para ajudar no orçamento doméstico. Depois foi vendedor de jornal, quando se encaminhou para a música, sua predileção. Tornou-se tocador de tamborim e cavaquinho nos subúrbios cariocas. Aos 15 anos conheceu o sambista Gradim, Lauro Santos, que o levou à Mangueira, de onde o cantor nunca mais saiu, tornando-se o seu principal puxador de samba-enredo por décadas. 

Jamelão enfrentou muitas adversidades para impor a sua voz no mundo discográfico. Mesmo com seu reconhecido talento, teve dificuldade para ganhar a vida como cantor. Cedo conheceu a Estação Primeira de Mangueira e lá se engajou no samba e encontrou seu caminho, transformando-se para muitos no principal puxador de sambas-enredo do país. Jamelão reforça os obstáculos que enfrentou com um depoimento sobre o racismo, que ainda persiste. Para ele, “o artista negro sempre encontra uma barra mais pesada”; “no meio musical todo mundo quer o crioulo, mas para fazer figuração, para tocar pandeiro e agogô e as mulatas para sambar”, mas “para ser estrela não serve, tem de ser branco e de preferência boa pinta”. E reforça “não grito contra isso porque sei que as pessoas que hoje me desprezam vão me amar”, porém “já fui deixado de lado em função de outros caras só porque eram brancos”, acentua.

Sua carreira começou em 1949, mas ganhou força a partir de 1952 quando o cantor passou a ser a voz principal em sucessão a Xandô da Mangueira. Encerrou carreira em 2006, dois anos antes de falecer. Jamelão passou a soltar a sua poderosa voz como corista de Francisco Alves nas rádios cariocas e numa noite assumiu o lugar do famoso cantor para interpretar música de Herivelto Martins. Sua voz forte e marcante jamais foi esquecida desde então. 

Há duas versões para o seu apelido, contou ele. Uma afirma que um radialista lhe pôs pseudônimo, apresentando-lhe dessa forma. Na segunda versão, em entrevista ao Jornal do Brasil (1998), ele afirmou que o apelido "é coisa de garoto. Minha mãe era doméstica e trabalhava no Colégio Independência, na Rua Bela Vista, no Engenho Novo. A gente morava nos fundos do colégio, num barraco. Quando comecei a jogar futebol no Piedade Futebol Clube, a turma costumava sair e ir jantar num restaurante. Um dia me levaram para a gafieira e lá surgiu o nome Jamelão” ele acrescenta ainda que “o pessoal na brincadeira falou para o gerente que eu gostava de cantar” e acentua: “não é que eu gostasse, eu sabia as músicas da época, a gente cantava junto”, aí diz ele “o cara não sabia meu nome e foi para o microfone e anunciou Jamelão”, desde então o apelido pegou. “Quando fui para a Rádio Tupi, nos anos 1940, o Almirante, que era diretor, não queria que eu cantasse com o apelido. Queria me tirar da programação", relata Jamelão.

Além de ser o principal intérprete da Mangueira, ele passou a fazer parte da ala dos compositores da escola a partir de 1968. Quatro anos mais tarde gravaria um LP somente com músicas do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues, de quem passou a ser considerado o maior intérprete. Em 1999 foi eleito por especialistas do Rio de Janeiro e de São Paulo como o “intérprete do século do carnaval carioca”. 

Jamelão teve uma careira sólida com a gravação de dezenas de discos. Ele que morreu em 14 de junho de 2008 aos 95 anos; merece ser homenageado em seu centenário e nos 125 anos da Abolição dos escravos, por se um grande talento negro brasileiro e um dos nossos maiores cantores. 

Vingança (Lupicínio Rodrigues) - Jamelão

Um Favor (Lupicínio Rodrigues) - Jamelão

Matriz ou Filial (Lupicínio Rodrigues) - Jamelão

* Marcos Aurélio Ruy é colaborador do Vermelho.

Extraído do sítio Portal Vermelho

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários serão moderados. Não serão mais publicados os de anônimos.