24 de maio de 2013

PRÊMIO PESSOA: PESSOA TINHA A ENERGIA DOS BEATLES, MAS NÃO O 'MANAGER'


O Prémio Pessoa 2012, o investigador norte-americano Richard Zenith, estabelece o paralelo entre "a energia e o desassossego" da banda britânica The Beatles, com Fernando Pessoa, para explicar o fascínio pela obra do poeta português.

O investigador evoca as duas figuras do século XX, durante a cerimónia de entrega do Prémio Pessoa 2012, que está a decorrer, em Lisboa, e que conta com a participação do Presidente da República, que entregou o galardão, e de Francisco Pinto Balsemão, presidente do júri e do grupo Impresa, detentor do semanário Expresso, que atribui o prémio, todos os anos.

"Os Beatles não paravam", lembra o investigador. "O seu génio dependia dessa permanente efervescência". "E era também isso que acontecia com Fernando Pessoa, que estava sempre a mudar – de voz, de opinião, de estilo literário".

"Os heterónimos permitiam que Pessoa suportasse e aproveitasse todas as contradições inerentes ao seu ser", mas "os Beatles, ao contrário de Pessoa, tiveram um excelente 'manager' que os obrigava a canalizar e a concentrar as suas energias criativas", afirma Richard Zenith.

"Comecei a traduzir poesia e a escrever poemas meus com 24, 25 anos", recorda Zenith na sua intervenção. Quando enviou os seus primeiros trabalhos para casa, "cheio de orgulho", a mãe respondeu-lhe que não percebiam poesia: "We don’t understand poetry”, respondeu-lhe.

Ao meio familiar foi buscar a recordação do êxito televisivo The Ed Sullivan Show e da estreia de The Beatles, nos Estados Unidos. Em vésperas de receber o Prémio Pessoa, reencontrou esses momentos no YouTube, e daí o paralelismo com Fernando Pessoa.

"A sua inteligência era altamente flexível, dinâmica", diz Zenith, referindo-se a Pessoa. O poeta tinha "toda a energia e desassossego dos Beatles".

Para explicar essa energia, Zenith teve de apelar ainda a outra memória, uma exposição de arte conceptual, em Bordéus, em 1983, de um antigo depósito convertido em museu de arte contemporânea, onde encontrou “La Maison”, de Jean-Pierre Raynaud.

"A casa-obra de Pessoa não teve de ser demolida, já nasceu em escombros – escombros de rara e misteriosa beleza com os quais nós, os seus pósteres, vamos fazendo uma vaga ideia da inatingível perfeição que o autor foi criando, materializando, até onde é possível, com esboços e fragmentos de brilho intenso. Discreto e reservado durante a sua vida, deu-se todo a nós, os seus ricos herdeiros".

"Sinto-me rico por poder editar, traduzir e divulgar a obra de Pessoa, e também as obras de outros autores de língua portuguesa. E sinto-me enriquecido por esta língua em que agora falo – o português – e pelos portugueses com quem vivo e entre os quais me incluo", afirmou Zenith, na conclusão do seu discurso de agradecimento.

Richard Zenith foi distinguido com o Prémio Pessoa 2012, pelo trabalho desenvolvido sobre a literatura portuguesa e o universo de Fernando Pessoa, em particular. É a primeira personalidade estrangeira a receber o prémio, que previa apenas, nos seus estatutos originais, a distinção de cidadãos nacionais.

Zenith, no entanto, tornou-se "cidadão de Portugal, por dedicação e louvor a uma obra, a de Fernando Pessoa, a uma literatura, a nossa, e a uma língua, a portuguesa", afirmou hoje Francisco Pinto Balsemão, ao retomando a decisão do júri que presidiu, no passado mês de Dezembro.

Extraído do sítio Sol

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