18 de junho de 2013

CRIAÇÃO VIRTUAL - Vitor Ribeiro


A criação literária, que já encontrou pouso em tavernas e, mais recentemente, nas universidades, agora tem na internet um poderoso meio para o seu desenvolvimento. Entre os adeptos do ambiente virtual para a elaboração e o debate de textos ficcionais está o escritor Leonardo Vieira de Almeida, que desde 2006 mantém uma oficina do conto on-line.

Na oficina, voltada para pessoas de diferentes áreas que querem se exercitar na escrita de contos, Almeida procura aliar noções práticas sobre a narrativa curta e conceitos teóricos em torno do gênero.

O conto, diz ele, é o mais camaleônico dos gêneros literários. Trilha várias possibilidades – pode ser ensaístico, filosófico, cômico, fantástico e tantas outras mais. “É como disse Mario de Andrade, conto é tudo aquilo que o autor chama assim”, lembra o escritor, que aponta como alguns de seus contistas favoritos Gustave Flaubert (1821-1880), Horacio Quiroga (1879-1937), João Guimarães Rosa (1908-1967) e Machado de Assis (1839-1908).

“É como disse Mario de Andrade, conto é tudo aquilo que o autor chama assim”

“O que subsiste é o desejo quase orgânico de contar histórias”, resume Almeida, que também é tradutor e crítico literário. Na oficina, as discussões com cada participante se dão por correio eletrônico. O professor propõe a produção mensal de um conto de tema livre ou sugerido por ele e depois analisa e comenta o trabalho.

Seus comentários vão desde correções na ortografia e na gramática até a sugestão de livros, tanto de teoria como de ficção, que possam instigar e aprofundar a criação.

Fronteiras

O trabalho da oficina rendeu, em 2008, a publicação de uma antologia de contos, O outro lado do sol, reunindo peças de 14 autores. Agora, há expectativa de nova publicação. “A procura pela oficina é bastante variada, há jovens e idosos, acadêmicos e não acadêmicos. Ao longo do tempo é possível ver o amadurecimento na produção dos participantes”, conta o professor.

Almeida acredita que o meio on-line é facilitador e agrega interessados de diferentes origens. Mas reconhece que nada se compara ao encontro presencial. “A criação a distância é viável, é um meio interessante, mas nada substitui a troca direta, a relação humana mais afetiva, inerente a qualquer prática de ensino”.

Assim como na oficina, o escritor busca, na sua própria produção, diluir as fronteiras entre a crítica e a criação literária. “Posso dizer que o contista, o tradutor e o acadêmico trabalham em conjunto”, afirma.

Dá como exemplo seu livro Veredas do grande conto: a descoberta do sertão em Guimarães Rosa , em que seguiu, como ele conta, a linha aberta pela escritora Susan Sontag, que no livro Contra a interpretação propõe “uma erótica da arte”. Almeida cita Guimarães Rosa para confirmar essa hipótese. “Como ele diria, o ensaio pode ser um conto crítico e todo escritor é um tradutor.”

* Publicado originalmente em Ciência Hoje On-Line, 12/6/2013.

Extraído do sítio Observatório da Imprensa

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