20 de julho de 2013

FLAUTA: PRESENTE EM TODOS OS CANTOS DO PLANETA - Suzanne Cords


Um dos instrumentos mais antigos e versáteis do mundo manteve seu fascínio através dos séculos. Festival na Alemanha celebra variedade da flauta, com músicos de 15 países.

Quer com ou sem bocal, de madeira, bambu, metal ou osso, a flauta é o mais antigo instrumento que existe, tão popular na África ou Ásia quanto na América ou na Europa.

Enquanto as crianças da Alemanha normalmente começam sua formação musical na flauta doce, suas colegas de idade na Turquia arranham o ney; nos Andes, é a zampoña ou flauta de pã; na Irlanda, o tin whistle metálico.

Com seus sons hipnóticos, a flauta envolve os rituais religiosos dos povos nativos, acompanha as cerimônias dos monges budistas e o trabalho ao ar livre dos pastores, e brilha tanto nas igrejas quanto nas pistas de dança. Resumindo: poucos instrumentos são tão versáteis e existem em tantas variantes, com as mais diversas afinações e escalas.

Magic Flutes

Wolfgang Meyering reuniu os flautistas de todo o mundo
"Uma flauta não é igual a uma flauta", brinca o músico Wolfgang Meyering. "Mas, para conhecer todas essas diferenças, é preciso ser um especialista. Existem flautas verticais e transversas, flautas de bico, com ou sem bocal, com ou sem orifícios para os dedos, tocadas com uma ou duas mãos. Há o kaval, a quena, a flauta peul e o shakuhachi... Quer ouvir mais?"

Consciente de toda essa diversidade, impressionante para um leigo, Meyering lançou o experimento Magic Flutes. Para tal, convidou virtuoses da flauta de 15 países, que ensaiaram durante quatro dias, antes de se apresentarem, juntos, no TFF Rudolstadt 2013, considerado o maior festival de folk, roots e world musicexistente.

Enlevado, o público reunido na idílica paisagem da Turíngia, no leste alemão, foi apresentado a esse instrumento de sopro em seus aspectos mais diversos: arcaico, nobre, solene, travesso ou virtuosístico.

Na Europa

Uma das participantes foi a alemã Heike Merzig. Depois de se iniciar na flauta doce, ainda na escola primária, e de se dedicar durante um tempo à música barroca, que é normalmente associada ao instrumento, ela passou aos gêneros folk e jazz.

A flautista considera, desse modo, estar seguindo os passos de seus ancestrais desde a Idade Média, os quais não respeitavam fronteiras estilísticas. Séculos atrás, a blockflöte era apreciada por todas as classes sociais na Alemanha. Melodias improvisadas na flauta doce soavam tanto entre os saltimbancos na praça do mercado, como na hospedaria ou nas festas de colheita.

Ao mesmo tempo, compositores como Johann Sebastian Bach, Georg Friedrich Händel ou Georg Philipp Telemann registravam suas sofisticadas ideias em notação musical. Os instrumentos entalhados em madeira eram encontrados nas versões desde as mais toscas até as de alto luxo. E, também por ser fácil de transportar, a flauta doce se difundiu amplamente na Alemanha.

Encontro internacional de flautas no festival de Rudolstadt
"Apito de lata" irlandês

O equivalente da blockflöte nas Ilhas Britânicas é o tinwhistleou penny whistle: de baixo custo e fácil acesso, e relativamente simples de tocar – pelo menos no nível mais básico. O irlandês Alan Doherty é um mestre dessa flautinha de metal com seis orifícios. Seu som é conhecido de milhões de pessoas através da trilha sonora da trilogia O Senhor dos Anéis, de cuja gravação ele participou.

"Meu instrumento é muito possante e forte", explica o dublinense. Características indispensáveis, pois otinwhistlefazia parte das noitadas nos pubs irlandeses, onde tinha que se impor, sem amplificação. Por vezes, a banda nem recebia pagamento em dinheiro, e sim em cerveja, o que mantinha o bom humor dos músicos.

"Assim, a música irlandesa tem sobretudo um caráter social", observa Doherty. "Nós, irlandeses, gostamos de festejar, dançar e cantar. Mas a Igreja não via o fato com bons olhos. Por isso, durante décadas, se realizavam as assim chamadas kitchen parties, nas cozinhas das casas. Ou então nos reuníamos secretamente em alguma encruzilhada, para tocar e dançar. Afinal, nos outros lugares era proibido até ficar de mãos dadas."

Felizmente esses tempos se foram, ri o instrumentista virtuoso – desde a década de 1960, quando conjuntos como The Chieftains e Jethro Tull tornaram o som da flauta socialmente respeitável.

Ney: sons de conotação mística

Também a música da ordem islâmica dos sufistas foi proibida durante longo tempo na Turquia. Sua sonoridade mais característica é a da flauta ney. Quando a sociedade otomana dos sultões teve que dar lugar a Mustafa Kemal Ataktürk (1881-1938) e a República, baniram-se também as tradições das épocas antigas, inclusive a hipnótica música sufi, ao som da qual os dervixes bailavam.

Turco Kudsi Erguner domina a flauta "ney"
"Somente nos anos 80, num esforço do setor de turismo para oferecer cultura aos visitantes estrangeiros, a música sufi retornou com força", relata Kudsi Erguner. Há anos o virtuose do ney se bate para que as composições dos séculos passados não se percam.

Seu instrumento, difundido em todo o Oriente Médio, desde o Norte da África até a Pérsia, é caracterizado por um som melancólico e doce, que o destaca das demais flautas. O ney não é fácil de aprender, pois não possui bocal e é preciso muita paciência até produzir as primeiras notas, através de uma técnica de sopro transversal.

Magia persistente

Igualmente de difícil domínio é a flauta da etnia africana dos fulas ou peuls. Criadores de gado bovino, eles vivem espalhados entre Senegal e Camarões, ao sul do Saara. A sua flauta, audível a longas distâncias, é o instrumento dos pastores. Mas ela também abrilhanta as ocasiões festivas, quando nas aldeias os jovens cortejam suas futuras noivas à luz da lua.

"Infelizmente, são poucos os que ainda tocam a flauta peul", lamenta o nigeriano Yacouba Moumouni, prestigiado mestre do instrumento em seu país. "A pessoa leva anos até conseguir executar uma melodia simples."

Koushi Tsukuda toca o tradicional "shakuhachi" japonês
Já a técnica da flauta de bambu shakuhachié é um pouco mais fácil, revela o japonês Koushi Tsukuda. Desde o século 17, ela é considerada no Japão como o instrumento dos monges zen-budistas, e tem sua origem no xiao chinês, mil anos mais antigo. O som suave do shakuhachi, que chamava os monges para a meditação, até hoje coloca em transe os esotéricos de todo o mundo.

Aquela que é possivelmente a flauta mais antiga do mundo é de osso, data de 35 mil anos atrás e foi encontrada nos Alpes Suábios, na Alemanha. Será que o homem pré-histórico que a deixou lá esquecida arrancava dela sons alegres ou melancólicos? Nem os historiadores são capazes de responder a essa pergunta. Porém uma coisa é certa: a magia da flauta nada perdeu de seu fascínio, até os nossos dias.

Extraído do sítio Deutsche Welle

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