11 de agosto de 2013

"PRESIDENTE" OU "PRESIDENTA"?


A comunicação oficial do governo brasileiro estabeleceu o uso da forma flexionada “presidenta” em relação a Dilma Rousseff.

Afinal, qual a forma de tratamento correta para os padrões da Língua Portuguesa em relação a Dilma Rousseff: “presidente” ou “presidenta”?

A comunicação oficial do governo brasileiro e da Presidência da República do Brasil estabelece o uso de “presidenta”. Mas muitos profissionais da imprensa e da mídia – inclusive brasileiros – resistem à flexão de gênero e continuam a referir-se apenas à “presidente” do Brasil.

Para sanar a dúvida, Ventos da Lusofonia publica a resposta de dois conceituados professores de Língua Portuguesa: Lúcia Vaz Pedro, de Portugal, e Diogo Arrais, do Brasil.

Ambos praticamente fazem a mesma declaração quanto ao uso de “presidenta”: que “não é uma novidade trazida pela senhora Dilma Rousseff”, como diz a professora Lúcia, e “não corresponde a uma invenção de Dilma Rousseff”, como diz o professor Diogo Arrais.

A resposta de Lúcia Vaz Pedro foi publicada em maio no Jornal de Notícias, de Portugal, e a de Diogo Arrais é mais recente, publicada no final de julho na revista especializada em economia Exame, do Brasil.

Dilma Rousseff, a presidente ou a presidenta?Lúcia Vaz Pedro (do Jornal de Notícias - Porto, Portugal - 19 de maio de 2013)

Nos documentos oficiais do governo brasileiro, aparece “a presidenta da República”: registrada no uso formal da Língua.

A utilização da palavra “presidenta” não é uma novidade trazida pela senhora Dilma Rousseff.

Na verdade, alguns dicionários editados em 1944 (o de Augusto Moreno) e em 1953 (o de Cândido de Figueiredo) registam essa palavra, embora fosse de cunho popular e, muitas vezes, usada de forma irónica ou pejorativa. Tal como “presidenta”, também surgem os femininos “giganta” (de gigante), “hóspeda” (de hóspede). Há, pois, uma tendência generalizada para “feminizar” os nomes/substantivos provenientes do particípio presente latino que não variava em género: amans, amantis (amante, que ama);legens, legentis (lente, que lê);audiens, audientis (ouvinte, que ouve). Assim, assistimos, nos dias de hoje, a um uso formal de “presidenta”, embora a sua prática não seja consensual, podendo também dizer-se “o presidente”/”a presidente”.

Por outro lado, verifica-se a existência de alguns casos excecionais – infante/infanta, elefante/elefanta, governante/governanta, mestre/mestra, monge/monja, parente/parenta. Existem outros finalizados em -nte, normalmente originários de particípios presentes e de adjetivos uniformes latinos, que mantêm a mesma forma para o masculino e o feminino, como, por exemplo, “o doente”/ “a doente”, “o tenente”/ “a tenente”, “o docente”/ “a docente”. 

Presidente ou presidenta, qual o certo?  - Diogo Arrais (da revista Exame - Brasil - 26 de julho de 2013).

Com a vinda do papa Francisco ao Brasil, uma polêmica voltou à tona: qual é a forma correta: “presidente” ou “presidenta”? Existem as duas formas. Sim! As duas formas são registradas pela Academia Brasileira de Letras (no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), pelo respeitadíssimo Dicionário Houaiss, pelo Aurélio e tantos outros.

Em um concurso público, por exemplo, o candidato pode fazer uso da forma “presidenta” e não perderá nota referente à Língua padrão. Por quê? Justamente porque a grafia é secular, tem o aval da Academia, dos dicionários e do uso popular.

Apesar disso, muitos preferem o uso de “a presidente”, pelo facto de nomes de dois gêneros terminados em -ente não apresentarem flexão de gênero, finalizando-os em -a. Alguns exemplos: crente, gerente, docente, discente, servente. Para os que assim creem, o artigo definido é o bastante para a variação em gênero.

É também interessante notar a existência de “presidenta”, desde 1899, pelo Dicionário de Cândido de Figueiredo:

“Presidenta, f. (neol.) mulher que preside; mulher de um presidente. (Fem. de presidente.)”

Língua é uso, povo, e reflete uma série de aspectos sociais. Há, no Brasil, por questões democráticas, uma tendência ao uso do feminino de diversos termos: a “chefa”, a “gerenta”, a “presidenta”.

A chegada de uma mulher ao poder é símbolo da Democracia; talvez, por isso, o Planalto faça uso de “presidenta”, nos atos e comunicações oficiais. O uso (ratifico!) não corresponde a uma invenção de Dilma Rousseff.

Por questões eufônicas, prefiro a forma “a presidente”, assim como alguns jornalistas, escritores e autoridades. É somente uma questão sonora e pessoal.

E você? Que forma prefere? Presidente ou presidenta?

Extraído do sítio Ventos da Lusofonia

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