12 de agosto de 2013

PROGRAMA INVESTE NA DIVULGAÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA NO EXTERIOR - Marcelo Gonzatto

Bolsas oferecidas pela Fundação Biblioteca Nacional beneficiaram cerca de 300 edições em pouco mais de dois anos.

Há pelo menos 20 autores gaúchos entre as edições traduzidas. Foto: Fernando Gomes / Agencia RBS

Uma explosão no número de livros brasileiros traduzidos com apoio da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) vem ampliando a presença da literatura brasileira em outros países.

O programa, que oferece bolsas para custear o trabalho de tradução, beneficiou cerca de 300 edições em pouco mais de dois anos. Isso equivale ao dobro do que foi oferecido ao longo das duas décadas anteriores. Nesse universo, há pelo menos 20 autores gaúchos de diferentes gerações.

Desde o começo dos anos 1990, o Programa de Apoio à Tradução e à Publicação de Autores Brasileiros no Exterior concedeu 456 bolsas a editoras estrangeiras. Mas dois terços dessa babel literária foram erguidos após uma reformulação ocorrida em 2011, que ampliou a oferta dos benefícios que vão até US$ 8 mil por projeto de tradução, além de até US$ 4 mil pela reedição de obras esgotadas. Os candidatos são selecionados por uma banca de especialistas que leva em conta itens como a relevância do livro e as condições de publicação. O país que soma o maior número de edições contempladas é a Alemanha (veja quadro abaixo).

– Esse interesse alemão tem em vista a participação do Brasil como convidado de honra na Feira de Frankfurt em outubro deste ano – explica o coordenador do programa de apoio à tradução da FBN, Fabio Lima.

Também de olho em Frankfurt, o escritor Luiz Ruffato acaba de organizar a coletâneaWenn der Hahn kräht – Zwölf hellwache Geschichten aus Brasilien, que quer dizer mais ou menos “Quando o galo canta: doze histórias brasileiras para despertar” e inclui traduções de contos das escritoras gaúchas Cintia Moscovich e Paula Taitelbaum. 

Além da Alemanha, os destinos preferenciais das traduções tem variado entre Espanha, França, Itália, Argentina e Romênia – país que demonstra interesse especial por gaúchos consagrados como Moacyr Scliar, Erico e Luis Fernando Verissimo. Ao todo, pelo menos 55 edições de escritores do Estado já foram incluídas no projeto, que deverá investir US$ 7,6 milhões entre 2011 e 2020. A relação de gaúchos contemplados conta ainda com nomes como Caio Fernando Abreu, Amilcar Bettega Barbosa, Luiz Antonio de Assis Brasil, Paulo Scott, Altair Martins, Michel Laub e novatos no processo de tradução como Tailor Diniz, autor do romance Crime na Feira do Livro.

A versão da obra para o alemão ilustra o desafio que a empreitada representa. Diniz e a tradutora alemã, Angela Wodtke, precisaram trocar inúmeros e-mails para esclarecer trechos e expressões (confira abaixo).

– Ela fez a tradução integral do texto, e depois foi apontando as dúvidas. Mantivemos muito contato durante dois meses – conta o autor.

Michel Laub, de O Diário da Queda, se encontrou pessoalmente com o tradutor francês Dominique Nédellec – que escolheu viajar ao Brasil também para conhecer melhor o país e aproveitar a onda de interesse na literatura nacional.

– Antes eu fazia propostas espontâneas a editoras, com traduções já finalizadas. Agora, quem me solicita são as editoras, estando o Brasil a suscitar um interesse e uma curiosidade crescentes – conta Nédellec.

Os desafios dos tradutores

A tradutora para o alemão de Tailor Diniz, Angela Wodtke, precisou trocar inúmeros e-mails com o autor para entender termos locais em Crime na Feira do Livro

Pontualidade alemã: O autor escreveu que personagens praticavam uma excentricidade – para os padrões brasileiros – ao chegar pontualmente a reuniões. A tradutora não entendeu – pelos padrões alemães – porque chegar na hora certa seria excêntrico.

Dúvida na cozinha: As referências à culinária local e popular exigiram esforço, como para entender o que é a popular “À la minuta” dos brasileiros. O autor explicou que era um prato servido em bandeja com carne, ovo, arroz, feijão e salada.

Expressões idiomáticas: Expressões como “deixa estar, jacaré”, “comer de colher” (aproveitar algo bastante), ou “sentar-se em cima do rabo” (esconder um erro) exigiram as adaptações possíveis. A solução para a primeira foi apelar para o inglês “See you later, alligator”, já que também é popular na Alemanha.

Referências culturais e geográficas: No livro, dois personagens principais vêm do Alegrete – o que tem significado cultural para o leitor gaúcho. O autor precisou situar a tradutora no imaginário gauchesco para entender a referência.

OS PRINCIPAIS DESTINOS

Confira os países com maior número de edições publicadas com apoio da Biblioteca Nacional:
Alemanha – 68
Espanha – 47
Itália – 41
Argentina – 34
Romênia – 25
Estados Unidos – 24
México – 18
Suécia – 17
Reino Unido – 15

Extraído do sítio Diário Catarinense

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